PONTOS: uma recombinação textual intermedial e transpoética


1. PROCESSO DE ALTERIDADE

Numa primeira fase, duas pessoas colocam-se em margens simetricamente opostas, durante o mesmo período de tempo, para elaboração de um texto que desenhe a perspectiva de um “outro que me vê” (sujeito A pensa margem A, assumindo perspectiva de sujeito B posicionado em margem B; sujeito B pensa margem B, assumindo perspectiva de sujeito A posicionado em margem A).

no olhar baço da vidraça líquida lenta indelével | um ponto no horizonte fugaz desfeito na ferrugem dos dias | uma réstia de sombra perdura na pedra | urge recuar no amanhã para que dois corpos se encontrem sós é preciso o movimento dos pássaros para atravessar o que há de lá para mim | o que existe num espaço de tempo entre um ponto e um porto qualquer | não é sequer a distância por fazer nem tampouco o caminho percorrido | quando muito a demora em não querer regressar uma bóia de transporte de betão onde gruas se afundam | veículos que se precipitam numa cama de picos sem fundo | zoom-out de um postal clássico zoom-in de uma fronteira esbatida construção e destruição possibilidades de um éden | uma polaroid de um western na linha de montagem para deus | um aproveitamento letal de cabos esclarecido pela profundidade de campo


2. PROCESSO COMBINATÓRIO

Numa segunda fase, os quatro textos unidos pelo tempo e separados pelo espaço, e resultantes do anterior processo de alteridade, são sujeitos a uma combinação sintáctica com recurso a software computacional.

Imagem do conjunto dos 4 textos originais antes de serem misturados. Imagem do texto resultante do processo combinatório computacional.


3. PROCESSO RECOMBINATÓRIO E INTERACTIVO

Por fim, numa terceira fase, o leitor é convidado a entrar num jogo de recombinação textual, num processo contínuo de construção/destruição de pontes entre margens.